terça-feira, 23 de agosto de 2016

Estudando sobre Annie Leibovitz

No primeiro semestre, uma das coisas mais legais da disciplina Fotografia digital  é estudar sobre o  começo da carreira da fotografa Annie Leibovitz.

Annie Leibovitz cresceu em uma família judia de classe média. Seu pai era militar, oficial da Força Aérea norte-americana, e sua mãe era dançarina. Teve seu ingresso no San Francisco Art Institute no início de 1967, para um bacharelado em artes plásticas, com habilitação em pintura. Em 1968, no período de férias escolares, viajou às Filipinas para visitar a família, que se instalava em uma base aérea norte-americana devido à Guerra do Vietnã. Nesta viagem visitou o Japão, onde adquiriu sua primeira câmera reflex 35 mm, cujo uso despertou seu interesse pela fotografia. Ao retornar a San Francisco, Leibovitz inscreveu-se em um curso noturno de fotografia (1967), dentro da escola de artes onde já estudava e, em seguida, participou de uma oficina sobre o assunto, quando então decidiu que aquele seria o seu ofício. 

Segundo Leibovitz, as principais referências fotográficas no San Francisco Art Institute, eram os fotógrafos Robert Frank e Henri Cartier-Bresson. Considerados os pais da fotografia, fotografavam de uma forma nunca feita antes. O estilo praticado pelos dois fotógrafos de reportagem pessoal e portátil, em 35mm, com câmeras pequenas, era o que os estudantes aprendiam. Esses foram, portanto, os principais inspiradores do início do trabalho de Annie Leibovitz. Onde aprendeu a fotografar, vendo o significado de ser fotografo através de Henri Cartier-Bresson e a liberdade de sair sozinho pelo mundo com um proposito, tirando fotos e procurando histórias como Robert Frank.

No documentário é relatado quando Leibovitz esteve em Israel, mostrando os protestos nos Estados Unidos contra a Guerra do Vietnã e a violência. Em sua volta, tal contexto rendeu-lhe fotos de comícios anti guerra em San Francisco e Berkeley, que assim como o material fotografado em Israel, foram apresentadas ao diretor de arte da Rolling Stone. Essa utilizou como capa a imagem de uma manifestação em frente à prefeitura de San Francisco, feita por Leibovitz. Assim, iniciou sua colaboração com a revista Rolling Stone, que durou por mais de dez anos.

De volta aos Estados Unidos, começou a trabalhar na revista Rolling Stone. As características editoriais da Rolling Stone até a primeira metade da década de 1970 estavam centradas no texto, não davam destaque às imagens. As fotografias, segundo Annie Leibovitz, eram publicadas em tamanho muito pequeno, ou cortadas e rearranjadas em colagens. Desta maneira, o texto predominava na composição gráfica das páginas, que eram impressas em preto branco e sobre papel-jornal (LEIBOVITZ, 2008).                       

Em 1971, Annie Leibovitz faria o seu primeiro retrato de capa. O sujeito da matéria ilustrada pela fotógrafa era o ex-integrante da banda “The Beatles”, John Lennon, um dos músicos mais celebrados do mundo naquela época. Leibovitz acompanhou o editor Jann Wenner até a casa de Lennon em Nova Iorque para entrevistá-lo. Estudante do San Francisco Art Institute, sob influência do fotojornalismo portátil, mais voltada para as coberturas, sem inclinação para o retrato. Segundo ela, qualquer um poderia fazer um retrato, e apenas capturar um momento no tempo, como Cartier-Bresson, era algo inspirador, a cooperação, a simplicidade e educação de Lennon durante a sessão provocaram uma mudança de perspectiva na fotógrafa. Desde então, a maioria das capas fotográficas da revista foram de autoria de Annie Leibovitz.


Truman Capote escreveu para a revista Rolling Stone uma matéria sobre a banda britânica The Rolling Stones. Leibovitz acompanhou o autor em três cidades visitadas pela banda. O material captado pela fotógrafa, nesses dias viajando com os músicos, fez com que Mick Jagger, vocalista do grupo, convidasse Annie Leibovitz para acompanhá-los novamente três anos depois, na turnê norte-americana: “Mick pediu que eu fosse o Cartier-Bresson deles” (LEIBOVITZ). Sendo documentados tanto o cotidiano, os bastidores, quanto os shows da turnê. Este foi um processo de imersão de Leibovitz no universo dos músicos, a constante variação das condições de luz nos shows, a movimentação dos músicos, foram dificuldades impostas à fotógrafa fazendo aprender a lidar e se aperfeiçoar a tais condições.


Leibovitz aprimorou-se na fotografia de shows. Da mesma maneira, após certas mudanças sucedidas no projeto gráfico da revista Rolling Stone ocorreram adaptações e evoluções na técnica de Annie Leibovitz. Rolling Stone passou a imprimir suas capas em quatro cores, reformulando a página de 21,6 x 27,9 cm para 25,4 x 30,4 cm. Levando a fotografa a se adaptar com uso de câmeras de médio formato, com fotogramas quadrados de 6x6 cm, em substituição do equipamento de pequeno formato, em 35 mm. Porém o negativo 6x6 produzia mais detalhe, se tinha mais clareza em um negativo maior. Profundidade de campo e iluminação tornaram-se mais críticos, tendo de focalizar precisamente. Já o negativo 35 mm mascarava muitas inadequações técnicas.  

Eu nunca havia fotografado em cores quando a Rolling Stone começou a imprimir capas em quatro cores em 1973 [...]. Quando eu fotografava em preto e branco, o laboratorista que revelava o meu filme, Chong Lee, me salvava. Ele inspecionava o filme sob luz vermelha no laboratório e fazia ‘push ing’ até que visse alguma coisa. Mas ele não podia me ajudar com cores. A exposição é crucial em transparências coloridas. [...]. Elas eram saturadas, de grão fino, muito bonitas. Para sobreviver ao processo de impressão da Rolling Stone, eu comecei a adicionar flashes externos à luz natural. Isso produzia imagens muito gráficas em termos de forma e cor. Havia muito contraste e saturação de cor nas fotos, mas nas páginas papel-jornal da Rolling Stone elas ficavam fora de registro e escurecidas (LEIBOVITZ, 2008, p. 49-52).

Após a saída da Rolling Stone para a Vanity Fair e a realização de campanhas publicitárias notórias, a carreira de Annie Leibovitz estava definitivamente inserida no mainstream e distante do fotojornalismo da contracultura no qual havia iniciado. Desde o início da década de 1980, Leibovitz já desenvolvia seu estilo próprio de retratos formais e planejados. A troca da Rolling Stone pela Vanity Fair, assim como a aceitação de trabalhos publicitários trouxeram novos aspectos para a maneira de trabalhar. Sua imagem estava muito ligada à informalidade do rock and roll. A Vanity Fair, por se tratar de uma publicação associada à moda e ao glamour, exigiu da fotógrafa cuidado especial com a beleza dos sujeitos. Em 1986 Leibovitz aceitou o convite da agência de publicidade Ogilvy & Mather para fotografar uma campanha da empresa de cartões de crédito American Express. Baseava em retratos, cujas sessões eram acompanhadas apenas pelo diretor de arte da agência, sem qualquer participação de representantes da American Express. Para Leibovitz, tentar seguir a direção de um cliente ao fotografar era errado, pois alterava o ponto de vista dela.
Em 1988, Annie Leibovitz e a escritora intelectual norte-americana Susan Sontag, se conheceram. Entre seus trabalhos está a coletânea de ensaios Sobre Fotografia, publicada em 1977, obra fundamental no debate sobre a imagem fotográfica. Anteriormente, a fotógrafa já havia sido orientada por profissionais experientes, como Bea Feitler, na época da Rolling Stone, e Ruth Ansel, em relação ao trabalho publicitário.Durante a Guerra da Bósnia, Susan Sontag foi a Sarajevo para montagem de uma peça teatral. A cidade estava sem eletricidade, em decorrência dos conflitos da guerra civil que devastava o país. Comovida passava solidariedade as pessoas locais. O envolvimento da escritora com a situação em Sarajevo inspirou Annie Leibovitz a também visitar e fotografar o cenário dos confrontos. As circunstâncias da capital Bósnia, em 1993, obrigaram Leibovitz a viajar com o mínimo de equipamento, sem assistentes. Essa simplicidade de recursos requerida pela ocasião reaproximou a fotógrafa do trabalho foto jornalístico no qual foi originada a sua carreira, pois as imagens de Sarajevo foram obtidas por uma câmera de pequeno formato, em filme preto e branco.

Segundo Leibovitz, a viagem à Sarajevo jamais ocorreria sem o estímulo de Susan Sontag. Para Leibovitz, no período imediato a sua volta, os retratos de celebridades pareciam pouco relevantes. Sontag idealizou o livro Women − uma compilação de fotografias que Leibovitz fez de mulheres, acompanhando textualmente as imagens. Sobre Fotografia (1977) é uma das obras mais citadas em estudos que possuem a fotografia como tema. Sontag já era uma notável analista do ofício fotográfico quando ambas se conheceram. 
O relacionamento entre as duas foi descrito pela fotógrafa em uma entrevista ao The New York Times como “Com Susan era uma história de amor”, e durou até o falecimento da escritora, em 2004, por leucemia. Annie Leibovitz fotografou o progresso da doença até os momentos que sucederam a morte de Sontag. Tanto a perda da companheira, quanto o hábito de fotografar até mesmo os momentos mais dolorosos de sua vida pessoal estimularam a fotógrafa a reunir uma coletânea de imagens, pessoais e de trabalho, mostrando sua simplicidade como pessoa, com uma personalidade forte e corajosa. 

Suas imagens têm características bem marcantes, na questão de iluminação, misturando luzes naturais com artificiais, com estilo marcante ao fotografar famosos: retratando um caráter intimista, bem roteirizado e imagens extremamente ensaiadas, tornando suas fotografias especiais. Com tom mágico, quase inexplicável, da arte e luz dificílima de copiar, captam cada detalhe dos fotografados.








Betina da Silva Palma
Referencias: documentário passado em aula, A vida através das lentes (2006), analise do livro de memorias, Annie Leibovitz At Work (2008).